O MACHADO SEM CABO
E porque hoje é domingo, com a panela no fogo e a barriga vazia, me entretenho a falar de política tirando uma fábula do fundo do baú. Nem sei quem é seu autor. Está num livro sem capa, ao lado de minha boa e velha "Seleta em Prosa e Verso", de Alfredo Clemente Pinto.
Como se sabe, nas fábulas não só a fauna fala, como a flora também dá seus palpites e troca ideias.
Pois era uma vez um machado sem cabo. Duas árvores, metidas a boazinhas, resolveram que uma delas daria a madeira para fazer um cabo. Deu e o machado ficou de cabo novinho em folha.
Um lenhador encontrou o machado. Achado, não é roubado. Logo o lenhador começou a derrubar a mata. De olhos esbugalhados e apavorada, uma árvore disse para a outra: - A culpa é toda nossa. Nós lhe demos o cabo.
E assim vai acontecer em outubro. A culpa será toda nossa. Nós vamos lhes dar o voto, a arma do povo. E com a nossa arma, eles matarão impiedosa e gradativamente a democracia.