DEMOCRACIA VIRA DITADURA
Riscar o chão da pátria para impedir o ir e vir
das pessoas é próprio de ditadores, de tiranos.
A mídia domesticada, sócia do governo, bate o pé, reclama e
faz média com o governo Dilma. A pandilha de colunistas amestrados lamenta que “a
16 dias da Copa do Mundo, pequenos grupos de manifestantes” estejam testando os
limites da condescendência do governo brasileiro.
E escorrem lágrimas de gente grande que fazem inveja a
qualquer crocodilo fingindo que noticiam um fato: “grandes cidades como
Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro voltam a enfrentar tumultos e engarrafamentos
provocados por minorias”.
Os blogueiros associados enfiam do jeito quer lhes faz bem o
que acham dos acontecimentos: “o entusiasmo da maioria por receber a Copa do
Mundo vai sendo abafado por cenas fabricadas sob medida para serem transmitidas
ao vivo pela televisão; basta interromper uma grande avenida para conseguir
atenção global”.
Perahê, ô! De onde saiu esse “entusiasmo da maioria por
receber a Copa”? Cadê as ruas enfeitadas, cadê as caras pintadas de
verde-amarelo; cadê as bandeiras nas casas, nas portas, nos muros; cadê as ruas
enfeitadas, vestidas de Brasil; cadê a recepção à seleção dos cartolas? Se isso
é entusiasmo da maioria, a vó desses caras é bicicleta!
Mas, eles não se cansam; querem manobrar a massa e balançam a
pança: “o plano de segurança do governo vai sendo desafiado a ser colocado em
prática com rigor”.
Perahê, de novo, cambada! Isso é uma notícia, ou uma ameaça?
Querem dizer que vai ter Copa com mais força ainda?!? Ah, tá. Pódexá, a gente
se previne. Já tá ficando acostumada.
Mas, olha bem aqui, pandilha de sevandijas, deixa-me dizer só
uma coisinha: uma democracia vira ditadura quando o governo se dá o poder de
governar demais.
Riscar o chão da pátria com linhas imaginárias para impedir,
travar, trancar, cercear o ir e vir das pessoas – digam elas, ou não, o que o
governo não gosta de ouvir – é próprio de ditadores, de tiranos.
Eu estava lá, como observador; queria, num rasgo de
babaquice, ver de perto a tal taça de ouro. Eu vi, a polícia a cavalo traçar a
fronteira que o governo mandou estabelecer em nome da Fifa.
Eu vi quem começou o tumulto. Uma cavalgadura deu o primeiro
coice. E eu vi, de perto, a democracia sendo ditadura.
Esse governo começou a governar demais. E muito mal. Pior do
que daquele jeito ruim que governava como se fosse uma democracia.
Uma manifestação popular de indignação e descontentamento não
precisa ter milhões nas ruas.
Isso é coisa para as marchas ordenhadas com bandeiras de centrais
sindicais associadas, para os camaradinhas estrelados de antigas uniões estudantis
que já não voltam mais; para as alegres, coloridas e didáticas passeatas de
orgulho gay, para os encontros universais de umas que outras igrejas de esquina,
para as filas de inscrições do Enem.
As manifestações que se espalham pelo Brasil de ponta a
ponta, não precisam mais de cinquenta, cem, duzentas ou duas mil pessoas para
estancar uma cidade, seja ali em Arrancatoco, na gloriosa São Paulo, capital da
América Latina, ou até mesmo em Brasília, Capital da Esperança que voltou a ter
medo.
E é isso, justamente isso, o que esquenta a cabeça furada
desse governo que não sabe o que fazer para continuar teimando que “não vai ter
baderna na Copa”. Se o governo estiver de férias, decerto, não haverá baderna
na Copa.
Com o governo de férias, nem os Black Blocs vão aparecer nas ruas. A sua
fonte pagadora estará de folga.